Desde que The Last of Us foi lançado pela primeira vez em 2013, o relacionamento entre Joel e Ellie tornou-se um dos pilares mais discutidos da narrativa moderna dos videogames.
A adaptação da HBO trouxe ainda mais atenção para a história, especialmente ao retratar o momento em que Joel decide salvar Ellie das mãos do grupo Fireflies, mesmo sabendo que essa escolha pode custar a sobrevivência de milhões. Recentemente, os criadores da série abordaram a pergunta que ecoa nas mentes dos fãs há anos: afinal, Joel estava certo ao fazer o que fez?
O Dilema Moral de Joel
No final de The Last of Us , Joel é confrontado com uma decisão impossível. Após descobrir que Ellie precisa ser sacrificada para desenvolver uma vacina contra a infecção Cordyceps, ele opta por salvá-la, matando qualquer pessoa que se coloca no seu caminho. Essa escolha não apenas coloca em risco a humanidade, mas também expõe o lado mais obscuro de Joel, um homem cujo amor desesperado pelo bem-estar de Ellie parece transcendê-lo moralmente.
Os criadores da versão televisiva da HBO foram questionados sobre quaisquer arrependimentos ou julgamentos éticos acerca dessa decisão. Craig Mazin, co-criador da série, afirmou que o objetivo nunca foi fornecer uma resposta clara, mas sim explorar as complexidades do comportamento humano. Para ele, a jornada de Joel reflete algo universal: o instinto de proteger aqueles que amamos, mesmo quando isso nos leva a cruzar limites morais.
Joel e Ellie: O Debate Ético de The Last of Us
Neil Druckmann, roteirista original do jogo e co-criador da série, complementa essa visão. Ele sugere que a questão não é se Joel estava certo ou errado, mas como suas ações moldam o futuro tanto dele quanto de Ellie. Druckmann argumenta que a relação entre Joel e Ellie é central para entender as consequências de tal decisão. No fundo, Joel age como um pai que não consegue aceitar outra perda irreparável após a morte de sua filha, Sarah.
A Perspectiva de Ellie
Embora o foco muitas vezes recaia sobre Joel, é igualmente importante considerar o impacto emocional de seus atos sobre Ellie. Durante grande parte da história, Ellie vê Joel como uma figura protetora e confiável. No entanto, ao descobrir a verdade sobre o que aconteceu naquele hospital, ela começa a questionar até onde pode confiar nele. Esse conflito interno é amplamente explorado na sequência The Last of Us Part II , mostrando como a mentira de Joel reverbera ao longo dos anos.
Os criadores destacam que a evolução de Ellie está diretamente ligada à forma como ela lida com essa revelação. Para alguns espectadores, isso pode gerar dúvidas: será que Ellie teria preferido morrer para salvar a humanidade? Ou será que ela valoriza a vida que Joel lhe deu, independentemente das circunstâncias?
A Prisão de Joel
Outro aspecto intrigante da decisão de Joel é como ela o aprisiona psicologicamente. Ao escolher salvar Ellie, ele se torna prisioneiro de sua própria mentira. Durante a série da HBO, fica evidente que Joel passa anos tentando justificar suas ações para si mesmo, enquanto simultaneamente vive com medo de que Ellie descubra a verdade. Essa tensão culmina em diálogos carregados de emoção, onde Joel insiste repetidamente que “não havia outra maneira”. Mas será que ele realmente acredita nisso ou está apenas tentando convencer a si mesmo?
Mazin e Druckmann enfatizam que esse peso emocional é intencional. Afinal, Joel não é apresentado como um herói típico, mas sim como um homem profundamente falho que faz escolhas terríveis movido por amor e trauma. Essa ambiguidade permite que cada espectador interprete a situação de maneira diferente.
Ao debater se Joel estava certo ou errado em salvar Ellie, é fundamental lembrar que The Last of Us não oferece uma resposta definitiva. Em vez disso, a obra estimula reflexões sobre temas universais, como sacrifício, amor incondicional e os limites da moralidade em tempos de crise. Tanto o jogo quanto a série da HBO brilham ao mostrar que, muitas vezes, não existem respostas simples para dilemas tão complexos.
Craig Mazin e Neil Druckmann demonstram, através de suas declarações, que o verdadeiro poder da história reside em sua capacidade de provocar discussões profundas entre os fãs. Eles entendem que cada pessoa trará suas próprias experiências e valores para interpretar o que significa ser humano em um mundo devastado.

